Margarida Menezes: uma vida dedicada à Educação Física

 

MARGARIDA MENEZES: UMA VIDA DEDICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

 

 

 

Dentre tantos professores que passaram pela Escola de Educação Física da UFRJ, Margarida Menezes tem uma história especial. Ela não foi apenas uma docente com muitos anos de casa. Margarida, que hoje tem 85 anos, dedicou 51 anos e nove meses de sua vida à Escola, da qual também foi aluna. A professora, que recebeu o título de emérita, é uma das maiores referências nos estudos de natação e nado sincronizado, sendo a precursora desta última disciplina no país.

A história de Margarida com a EEFD começou em 1943, apenas quatro anos depois da fundação da escola. Margarida, oriunda de Alagoas, veio para o Rio após passar em uma prova na qual foi aprovada para se tornar estudante de educação física na então capital federal e depois retornar para ensinar o que aprendeu em seu estado de origem. Mas o destino fez com que a professora nunca mais se separasse da Escola. Após o término da graduação, ela foi indicada para continuar no Rio para um curso de aperfeiçoamento de dança e de treinamento desportivo em vôlei e natação. Na época, a Escola de Educação Física não tinha nem mesmo sede:
 

“Quando eu ingressei na Universidade, as aulas práticas funcionavam no Fluminense Futebol Clube e as aulas teóricas no atual Instituto Nacional de Educação de Surdos. Depois fomos para o atual Campus da Praia Vermelha. Só seguimos para o Fundão na época do (presidente Ernesto) Geisel” – contou.

Depois de se graduar e se especializar, Margarida permaneceu no Rio e começou a trabalhar como assistente da professora e grande nadadora, Maria Lenk. O espírito visionário das ambas fez com que a Escola se tornasse pioneira e fosse a primeira do Brasil a lançar a disciplina de nado sincronizado, modalidade na qual o Brasil vem crescendo cada vez mais.

“A disciplina nado sincronizado foi lançado por mim e a professora Maria Lenk. Ela viu e achou interessante porque era uma disciplina que, com o tempo, seria olímpica e a escola precisava dar uma orientação para que seus alunos tivessem técnicas de nado sincronizado. Isso foi importantíssimo porque todo professor deve trabalhar para expandir a área de trabalho de seus alunos e não pra reduzir” – disse ela. E deu a dica para os atuais profissionais:

“A EEFD não pode nunca deixar de ter as disciplinas dos desportos que começam e que já estão com o futuro mais ou menos delineado para alcançar as Olimpíadas. Deve sempre ter gente preparada e que tenha noção daquele desporto. E a Escola que deve ser orientadora disso”.

Apesar de ter sido a primeira a ensinar o nado sincronizado no meio acadêmico e formar grandes profissionais para a área, Margarida não gosta muito de trabalhar com esportes de competição, mas sim com a educação e a formação que o esporte pode proporcionar:

“Não me interessava muito grandes performances, eu gostava de encaminhar as pessoas, eu gostava de dar o desporto, de ensinar o voleibol, ensinar a natação para que as pessoas usufruíssem daquilo. Mas nunca tive muita tendência nem vontade para preparar para esporte competitivo. Acho que nenhum desporto começa de uma seleção, todo desporto começa de uma massa. E massa é uma grande quantidade de gente na idade escolar” – explicou.

Dentre alunos famosos, Margarida destaca Djan Madruga, grande atleta da natação que passou por suas mãos durante uma colônia de férias. Por essas e outras, a professora se sente muito satisfeita com o trabalho que desenvolveu durante mais de 50 anos:

“Se eu nascesse hoje, seria novamente professora de educação física na área de natação. Eu não fiz nada contrariado. Os alunos não gostavam muito de mim, porque sempre fui muito preocupada, muito rígida em relação à piscina, porque ali podem acontecer acidentes” – disse.

Além da paixão pela profissão, a professora não esconde as duas outras paixões de sua vida: as coleções e o Botafogo.

As coleções já a levaram até mesmo a escrever um livro que, por problemas editoriais, nunca foi publicado. Nele, ela traça um panorama sobre a história dos álbuns de figurinhas. A grande maioria pertence a ela própria, que conta com mais de 3000 exemplares destes em sua casa. Além de figurinhas, sua casa possui milhares de pins dos mais diversos temas: do esporte à política. Sua paixão por colecionar é tanta que suas coleções já foram utilizadas em diversos livros e suas flâmulas estão expostas no Museu do Futebol, localizado no Estádio do Pacaembu, em São Paulo.

“Coleção nasceu comigo. Desde pequena, eu gostava de guardar tudo qualquer besteirinha, uma continha de cor diferente, porque eu não tinha dinheiro para comprar as coisas. Desde pequena eu tenho essa mania. E assumi um volume tão grande, que no meu outro apartamento que não era pequeno, não cabia mais” – contou Margarida.  

Já quanto ao Botafogo, a professora se orgulha de ter sido a primeira mulher a receber o título de grande benemérita do clube e conta uma história engraçada:

“Durante uns Jogos da Primavera que ocorreram, competi pela Escola de Educação Física e contra o Botafogo. Na época, já era emérita do clube e quase perdi meu título” – disse.; 

Com todo esse conhecimento, Margarida encerrou a entrevista com uma mensagem para a Escola neste momento em que se inaugura o novo site:

“A educação física tem que morar lá no fundo de todos nós. Porque ela é uma atividade muito importante na vida das pessoas. E elas utilizam cada vez mais o desporto seja como lazer, competição ou formação. Por isso, esta é uma grande Escola” – resumiu Margarida.

 
Pedro de Figueiredo