Projeto da EEFD leva qualidade de vida para crianças do IPPMG, utilizando o brincar.

O projeto Brincante, iniciado em 2006, conta com uma equipe de 30 membros, que se revezam no trabalho com crianças, especialmente com câncer, atendidas no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) da UFRJ.

O objetivo é permitir que, com a brincadeira, o sofrimento causado pela doença seja minimizado:

- “A nossa ideia é que por meio do brincar, a criança seja capaz de transformar o ambiente hospitalar, caracterizado pela dor e pela angústia, em um espaço de prazer e alegria” – explicou a professora Ruth Cohen, Coordenadora Geral do Projeto.

Atualmente, o Brincante desenvolve seu trabalho em três seções do IPPMG. Os alunos da EEFD, chamados de “oficineiros brincante” acompanham durante cinco dias da semana, de segunda a sexta-feira, os pacientes da quimioterapia e internados na enfermaria. Além disso, nas manhãs de sexta-feira, desenvolvem brincadeiras com os pequenos que se encontram na sala de espera dos ambulatórios:

- No início – contou a professora Ruth – o nosso projeto seria voltado apenas para os pacientes da quimioterapia, mas quando iniciamos a quimioteca ainda não estava inaugurada e sugeriram que fizéssemos um trabalho na sala de espera. Com o passar do tempo, trabalhamos com os dois setores e atualmente incorporamos a enfermaria.

As atividades na sala de espera, que inauguraram as ações do projeto, são desenvolvidas em quatro oficinas, que permitem às crianças inventar suas próprias histórias e brincadeiras.  Há quatro temáticas principais nas oficinas: movimento, dramatização, jogos e artes plásticas. Nelas, a função dos oficineiros é a de se colocar como suporte do brincar e com isso facilitar a ação das crianças em seu processo imaginativo:

- As oficinas são inspiradas em autores da psicomotricidade e da psicanálise. Dão ênfase a formas de agir da criança em seu estatuto de sujeitos da ação. Ela fica à vontade para brincar na oficina que preferir e para escolher como brincar com os materiais disponíveis naquele espaço – disse a Coordenadora de Apoio Técnico do Projeto, professora Marta Ballesteiro. Ainda, segundo ela, para um maior aprendizado, os oficineiros se revezam em todas as atividades oferecidas na sala de espera dentro de um período letivo.

Para os oficineiros, trabalhar no projeto é uma grande experiência. Um exemplo é Augusto Brito, bolsista do projeto há um ano e meio e aluno do curso de Licenciatura em Educação Física na EEFD. Ele acredita que, além da relevância social, as atividades que desenvolve são um grande aprendizado para o seu futuro profissional:

- É muito bom ver as crianças que, mesmo doentes, se entregam à fantasia, à imaginação. Em alguns momentos, temos a impressão de que elas se esqueceram de sua situação. Como futuros educadores, aprendemos a lidar com a subjetividade das crianças – contou o bolsista. Para ele, o projeto teve uma grande importância em sua vida pessoal: - Tinha experiências negativas com casos de câncer na minha família e com o projeto pude ver que há um outro lado. Vi que as crianças podem voltar a ser crianças mesmo com a doença e com o tratamento – explicou.

Sendo um projeto de pesquisa-intervenção, o Brincante vai além das atividades práticas. A equipe se reúne duas vezes semanalmente para discussões sobre a estrutura administrativa, supervisão e estudos de caso dos pacientes atendidos durante a semana. De acordo com a Coordenadora Geral, o acompanhamento das crianças da sala de espera e de cada paciente da quimioterapia e enfermaria é transcrito em relatórios que serão discutidos nessas reuniões. O foco dos debates é a utilização da fantasia infantil como forma de diminuir a pressão e o mal-estar do tratamento, utilizando como fundamentação conceitos teóricos, como os da psicomotricidade:

- O psicomotricista francês Bernard Aucouturier define a psicomotricidade como uma prática que visa à maturação psicológica da criança pela via motora. Baseado em sua proposta, o projeto transformou o ambiente da sala  de espera dos ambulatórios em um lugar de apaziguamento das tensões geradas pelos procedimentos médicos, cumprindo assim, um de seus objetivos – explicou a Coordenadora Técnica do Projeto, Professora Márcia Fajardo.

Para aprofundar as discussões teóricas sobre o assunto, o Brincante realiza a cada dois anos o Encontro de Psicomotricidade da EEFD-UFRJ. O evento, que já teve duas edições – 2007 e 2009 – recebe convidados externos para discutir a relevância do brincar no desenvolvimento da criança, dentro ou fora do contexto hospitalar. Em suas duas edições, o Encontro teve o apoio do Banco do Brasil e, na segunda, da Fundação Universitária José Bonifácio.

No dia a dia, o Projeto recebe o apoio da Superintendência Geral de Administração e Finanças da UFRJ (SG-6) para a compra dos materiais necessários ao seu funcionamento. Recentemente, o Brincante foi contemplado pelo Edital de Apoio a Projetos de Extensão e Pesquisa (EXTPESQ) 2010, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Conta com a participação de duas professoras da EEFD, três professores de educação física, uma designer, duas psicólogas, uma mestranda e um doutorando do Instituto de Psicologia, e vinte alunos dos cursos de educação física da EEFD, sendo 9 bolsistas PIBEX e 1 bolsista PIBIC.

Mais informações sobre o projeto podem ser obtidas no Departamento de Corridas da EEFD pelo telefone 2562-6809 ou, na web, pelo endereço  www.eefd.ufrj.br/brincante

Pedro de Figueiredo