Matéria da FAPERJ destaca projeto de pesquisadores do PPGEF

Data de Expiração do Aviso: 
31.12.12

 Pesquisa identifica na saliva biomarcadores para avaliação de estresse oxidativo

 Elena Mandarim
 
O atleta Emanuel, da seleção brasileira de volei de praia, entre a pesquisadora Verônica Salerno e o mestrando Diego Gomes     
 
Que a prática regular de exercício físico faz bem a saúde, todo mundo sabe. Mas, em excesso, eles aumentam muito a concentração de radicais livres no organismo, podendo causar um estresse oxidativo, que gera danos às estruturas celulares, com consequente alteração funcional de diversos tecidos e órgãos. Quem alerta é Verônica Salerno Pinto, professora do Departamento de Biociências da Atividade Física, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). No projeto contemplado pelo edital de Apoio ao Desenvolvimento de Inovações no Esporte, da FAPERJ, ela busca reconhecer alguns biomarcadores de estresse oxidativo presentes na saliva. O objetivo é, no futuro, criar um kit para detectar, em tempo real, se as condições de treinamento do atleta estão adequadas. "Uma das consequências do estresse oxidativo é o comprometimento da capacidade muscular, o que aumenta o risco de lesões. Por isso, um método preciso, rápido e, ainda por cima, não invasivo pode ser útil para garantir uma combinação ótima entre estímulo e repouso e evitar o que chamamos de overtraining, em português, treinamento exagerado", explica Verônica. O trabalho inclui a dissertação de mestrado do aluno Diego Viana Gomes, no programa Biodinâmica do Movimento Humano, da UFRJ.
 
Segunda a pesquisadora, na primeira etapa do estudo, amostras de sangue e de saliva de cerca de 50 atletas de diferentes modalidades, como volei de praia e futebol, foram avaliadas durante uma pré-temporada de campeonato e durante o calendário de jogos. A metodologia serve, principalmente, para saber se, na saliva, as substâncias que respondem aos efeitos do exercício físico, como a proteína carbonilada , se comportam da mesma forma de quando estão no sangue, que é o método tradicional para verificar estresse oxidativo. "Os componentes que apresentaram a mesma resposta do exame sanguíneo são os nossos potenciais biomacadores salivares para estresse oxidativo", revela Verônica.
 
A pesquisadora explica que a partir desses resultados, a próxima fase é criar compostos reagentes para esses biomarcadores. Em um primeiro momento, a equipe pensa em desenvolver um kit parecido com os testes de gravidez vendidos em farmácia: um reagente dentro de um tubo que possa apresentar uma escala de cor após entrar em contato com uma escovinha impregnada com a saliva do atleta. "Dependendo da tonalidade da reação, o treinador saberá se aquele atleta está respondendo de forma sadia ao esforço ou se ele está começando a entrar em overtraining", exemplifica. Verônica ainda ressalta: "Não descartamos a possibilidade de, em parceria com uma empresa de eletrônica, aplicar os conhecimentos na fabricação de um aparelho para fazer essas análises, tal como os usados para medir a quantidade de açúcar no sangue."
 
As vantagens de se usar a saliva
Os radicais livres são substâncias altamente reativas, que podem ser liberados pelo próprio metabolismo, como na atividade física, ou podem ser produzidos por influência de fatores externos, como a exposição ao sol, o consumo elevado de álcool, fumo, drogas, entre outros. Em excesso, podem causar estresse oxidativo, que mais do que responsável pela queda do desempenho do atleta, também está associado à irritabilidade, à baixa imunidade, ao envelhecimento precoce e a várias patologias, como artrite, doenças cardiovasculares, diabetes e até alguns tipos de cânceres.
 
Pesquisa analisou o sangue e a saliva de cerca de 50 atletas, entre eles jogadores de futebol, para identificar biomarcadores de estresse oxidativo     
 
De acordo com Verônica, diversos estudos já demonstraram que as vitaminas C e E são poderosos antioxidantes, que neutralizam os danos causados pelos radicais livres e minimizam a incidência do estresse oxidativo. "O próprio organismo, inclusive, tem um sistema antioxidante, que em condições saudáveis consegue proteger tecidos e órgãos dos efeitos nocivos dessas substâncias. Contudo, em situação de overtraining, há uma queda da capacidade antioxidante total", explica a pesquisadora.
 
A pergunta, então, é: qual é a concentração máxima de radicais livres suportada pelo organismo, de modo a não evoluir para um quadro de estresse oxidativo? Verônica explica que já se sabe avaliar quais marcadores mostram uma situação limite: "A interleucina inflamatória (IL-6), por exemplo, estará sempre presente no atleta submetido a uma carga de esforço. Acima de uma determinada concentração, pode ser usado como indicativo de estresse oxidativo. Outro bom marcador é uma substância envolvida na inflamação sistêmica, conhecida por TNF-alfa. Quando ela aumenta após o exercício físico, pode indicar não só que o treinamento foi exagerado como a recuperação está inadequada.Além disso, podemos avaliar os danos causados nas membranas celulares através da peroxidação lipídica e do extravasamento de proteínas intracelulares."
 
A saliva é um fluido biológico que exerce diferentes funções, como lubrificação, digestão e proteção. Segundo Verônica, os biomarcadores salivares ganharam popularidade na década passada, principalmente em pesquisa biomédica. "O fato de não necessitar de nenhum processo invasivo e a rapidez da coleta fazem da saliva uma amostra promissora para estudos. No nosso caso, observamos que a concentração dos biomarcadores é elevada e, portanto, é factível de ser mensurada e avaliada."
 
A pesquisadora acredita, portanto, que o kit para avaliar estresse oxidativo por meio da saliva pode ser um grande aliado para os treinadores alcançarem a máxima relação entre esforço e recuperação dos seus atletas. "A vantagem de ser um método rápido e não invasivo permite que os atletas sejam acompanhados todos os dias. Tal avaliação seria impossível pelo tradicional exame de sangue, que além de mais demorado, é mais caro por exigir profissionais especializados para conduzir as coletas e as análises", diz Verônica.
 
A prática regular de atividade física é recomendada tanto para diminuir os riscos de problemas cardíacos como para melhorar o prognóstico de algumas doenças, como diabetes. Sem contar que, em tempos de culto ao corpo, serve ainda para tornear e definir músculos. "Seja atleta profissional ou não, o melhor é sempre procurar se exercitar de forma segura e saudável", conclui Verônica.